Texto de Ana Magnani*
Continuo buscando o fio e sua relação com o corpo,
um corpo ávido por encontrar-se
nesse brincar,
de pique esconde,
de escavar lembranças,
de atravessar as sensações
e tudo que daí surja.
Repouso com a linha sobre o meu colo
e tateio o corpo têxtil que descansa por entre meus dedos.
Sinto sua pele, sua força e resistência.
Ouço sua voz.
Ele me pede calma,
delicadeza ao perfurar para não o machucar,
linha fina que se incorpore a sua textura,
que as torne única.
Como escrever em um corpo têxtil,
deixando marcas sem enfraquecê-lo,
mas, ao contrário,
tornando-o fervoroso
em nossos entrelaçamentos.
Percebo a respiração acalmando,
enquanto experimento a troca.
Um corpo desacelerado,
mãos que se movem calmas,
o ritmo acontece.
Essencial se tornam os fios soltos,
livres,
deslaçados,
folgados.
Eles permitem tratar de anseios.
Indispensável se tornam os erros,
imperfeições,
escorregadelas,
falhas.
Acolhe os limites.
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*Ana Magnani é doutoranda em Educação na FCLAR - Faculdade de Ciências e Letras da Unesp Araraquara. Em seu Ateliê desenvolve pesquisas sobre a temática da infância, da diversidade pesquisas sobre a temática das infâncias, diversidades com enfoque nas relações étnico-raciais e de gênero.