Dias de chuva

são um convite a ficar dentro

Texto de Luciana Aguilar*

 

Dias de chuva são um convite a ficar dentro, olhar aquilo que mofa, abrir espaços internos, da casa, da mente. Um convite ao mergulho nas coisas que precisam ser arejadas. Em casa, nesses dias de chuva fina, gosto de abrir janelas, deixar os respingos molharem o chão. Acompanhar as ferrugens que aumentam lentamente.

Resolver os rangidos das portas.

Me alegrar com a alegria das folhas verdes que crescem com uma força diferente.

Dias de chuva são um convite para ficar dentro, aquecer, proteger e preguiçar.

Mesmo no verão, um chá, um bolo, a TV e o sofá.

Ver o menino procurar o que fazer e inventar uma bola pra bater dentro de casa, mesmo correndo o risco da mãe ralhar. Os desenhos nas folhas do caderno ganham cores, tons de laranja e cor de rosa, na tentativa de ensolarar o desejo de ir ali ver o mar e voltar.

Mar revolto, mar com folhas, mar com pedacinhos de pau vindos de um tão distante. Rios cheios de volume de força e de coragem.

Dias de chuva uma reflexão que exige minha percepção não programada, não iludida, não inventada.

O crochê parado, volta a andar

Na ânsia de crochetar tarde, demorada, estendida, aproveitando a calmaria dos pássaros que cantam mais devagar

Dias de chuva trazem pés molhados e frios. Que aproveitam a água que escorre no quintal.

Dias de chuva num verão nem tão quente, com chuvas nem tão passageiras convidam a férias internas de organização e observação.

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Escute o texto na voz da autora

___*Luciana Aguilar é especialista em Artes-Manuais para Educação e gestora acadêmica. Artemanualista. Docente da pós-graduação Artes-Manuais para Terapias. Pedagoga, atua como professora particular e orientação de trabalhos escolares e de textos acadêmicos. Mãe, estudante do curso de Letras. Escritora. Escreve sobre temas do cotidiano, as coisas ditas pequenas da casa, os fazeres manuais com fios, maternidade e mulheres. Pesquisadora da leitura e dos processos de escrita.