Texto de Rita Kawamata*
Cada um dá o que tem no coração. E cada um recebe com o coração que tem.
Tateio a pele do miocárdio, deslizando os dedos. Visito marcas, cicatrizes, fibras de músculo e carne. Carrego o vermelho de dentro para fora. Viscoso.
A fricção dos dedos na carne libera um som de cordas. Acorde. Volumoso.
O movimento repercute no peito, caixa de ressonância. As histórias viram dramas, canções, ecos. Sangue escorre pelo braço. O coração está retumbante.
Expiro um vento quente, com cheiro de maresia. Vejo o mar desenhando o horizonte. Ouço as ondas quebrando na costa.
Cambaleio em linha reta e me dobro sobre o ventre. Me faço molusco, concha.
Uma onda me carrega de volta para o oceano. Fecho os olhos e submerjo.
Desço lá embaixo, na zona abissal. O tempo para.
Demora uma era. Rodopio no vazio.
Acordo rosa. Rosa vermelha, que estendo para te ofertar. Receba-a.
Cada um dá o que tem no coração.
Foto: Rita
*Rita Kawamata
é uma mulher em amadurecimento que tomou gosto por investigar a vida questionando, experimentando, escrevendo e buscando criar vínculos saudáveis.
Conheça a Rita:
@narcisokawamata
@rita.meedita
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