Texto de Patrícia Amantino Estivallet*
A lembrança mais remota que tenho com relação aos trabalhos manuais sou eu emprestando meus braços para feitura de meadas de lã. Na casa da minha infância essa era uma tradição de preparação para o frio, que chegaria com o inverno no Sul do país. Tudo começava com uma faxina no armário das crianças.
Quando as temperaturas começavam a ficar mais amenas, o verão indo embora e o ventinho do outono dava sua graça, nossas roupas de lã eram vistoriadas, as que não serviam, quase todas, iam para a “reciclagem”, termo que não usávamos na época, mas que praticávamos no dia a dia.
As peças de lã eram desmanchadas e as crianças convocadas a emprestar seus braços para a feitura das meadas. Era lindo ver a lã ‘engruvinhadinha” ir se esticando nos nossos braços. Quando cansávamos, era no encosto de uma cadeira que o trabalho continuava.
Prontas as meadas, devidamente amarradas, eram lavadas, ficavam de molho em uma mistura que, até hoje, sinto do cheiro. Iam, então, para o varal, no pátio da casa. Olhando já saberíamos de que cor seriam as listras das nossas blusas novas.
Mas o trabalho não acabava ali. Secas, as meadas voltavam para nossos braços, macias e cheirosas, dali sairiam os novelos que acabariam nas cestas das tricoteiras da casa: minha mãe e minha avó.
Minha primeira graduação nas Artes-Manuais foi passar de suporte de meada para tricoteira. E, às vezes, hoje em dia, relembro com minha neta, mais por brincadeira, pois as “lãs” sintéticas de hoje não merecem tanto carinho.

Foto – Catarina (neta)
______
*Patrícia Amantino Estivallet - Porto Belo - SC
Arte Educadora, Licenciada em Artes Visuais, Especialista em Arte e em Neuropsicopedagogia, graduanda em Sociologia, pesquisadora da cultura popular. Trabalhando sempre com educação pública e, há mais de vinte anos, também na educação não formal. Artista plástica, ceramista e bonequeira, atua como contadora de histórias e, no Teatro de Miniaturas. Ministra Oficinas de Arte e Manualidades.
Email: bonequiando@gmail.com
Instagram: