O Moço

em três atos

Texto de Luciana Aguilar*

Ato 1

Dentro do tecido que conta história de sol, se esconde o moço. A história que o moço conta é nova e velha. O moço poeta que fala de lugares distantes, que empreende lugares fantásticos, assustado olha fixamente.

Que será que acontece quando ele vê o mar?

Ato 2

O moço bonito com a camiseta de sol, hoje, vestia azul.

Buscou pistas nas poucas palavras que trocaram, e percebeu na provocação seu desejo de escrever. Talvez para ser lida, talvez pelo interesse do leitor, que hoje, vestia azul.

- Escrever o cotidiano me parece agora desinteressante, disse ela.

- Ah! Se você não escrever isso, escrevo eu. Retrucou de pronto.

Talvez o afastamento de quem repete que escrever cotidiano cansa, talvez por ouvir em voz alta, lembrou: era isso que quis. Escrever cotidiano. Escrever crianças. Escrever mãe.

Escrever mãe. O que é isso de escrever mãe? Escrever desejos? Escrever banalidades? Escrever casa. Importa?

Ato 3

O moço mar com camiseta de sol, que vestia azul, hoje veste ... não sabe.

É um alívio não saber.

Imagina que usava uma camisa de folhas, dessas que voam ao vento leve da primavera que se aproxima. Um alívio não saber. O som lá fora toca alto, a noite está fria, mas na cabeça toca vento.

Pés a rodopiar.

Som do mar.

Risos.

Cores.

Suor.

Agora, escreve cotidiano e já nem se lembra do moço poeta, bonito e mar com camiseta de sol, que vestia azul e camisa de folhas. Se senta, escreve cotidiano, sem as dores de outrora, brinca com as palavras, escreve seus textos curtos, assim como é seu tempo.

E segue escrevendo.

 

Escute o texto na voz da autora

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*Luciana Aguilar é especialista em Artes-Manuais para Educação e gestora acadêmica. Artemanualista. Docente da pós-graduação Artes-Manuais para Terapias. Pedagoga, atua como professora particular e orientação de trabalhos escolares e de textos acadêmicos. Mãe, estudante do curso de Letras. Escritora. Escreve sobre temas do cotidiano, as coisas ditas pequenas da casa, os fazeres manuais com fios, maternidade e mulheres. Pesquisadora da leitura e dos processos de escrita.