Qual o tamanho da delicadeza?

reflexões sobre o que pode o pequeno...

Texto de Nina Veiga*

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Recebi um presente surpreendente (fotos) da artista Érica Campos**e fiquei pensando sobre micropolítica da existência, me perguntando: qual o tamanho da delicadeza?

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Há toda uma cultura dos tamanhos.

Numa sociedade movida pelo espírito arimânico, do sempre mais e maior, o pequeno é desvalido.

Por isso, o desafio de observar a potência no menor requer lentidão, como nessa foto-novela, onde abriremos um pequeno pacote de presente em seis atos reflexivos.

O que pode o pequeno?

Para nós, seres de um contemporâneo onde o valor pessoal, seja monetário ou de visibilidade social, é medido em milhões, bilhões e trilhões, onde se construiu uma moralidade a partir da quantidade, para nós, o menor é terapêutico.

Exercitar a percepção do menor é ação querida e necessária.

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A questão da valoração do menor é tão arraigada ao pensamento que, mesmo quem se esforça para alterar os valores sociais, muitas vezes cai na cilada arimânica.

Um exemplo é o argumento de inverter a categoria "minorias", sejam quais forem, em "maiorias", alegando que são numericamente mais volumosas.

Entendo os motivos da argumentação, mas eles não alteram a estrutura de valoração quantitativa, que deixa de fora importantes aspectos qualitativos.

Até mesmo a ênfase que a democracia liberal dá ao volume numérico pode ser posta em questão, em tempos de big datas manipulativas.

Eis uma discussão difícil e necessária.

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O acontecimento gerado pela potência do menor produz devires.

Devires múltiplos que inventam a um só tempo o si e o mundo.

Nesta micropolítica existencial, podemos perceber o que acontece quando nada parece acontecer.

A potência minoritária é capaz de nos manter ativos, mesmo em situações opressivas, mesmo quando não há nenhuma saída à vista.

Por isso, o exercício de percepção que o pequeno nos exige, também tem como efeito fortalecer nossa confiança.

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iquei pensando em quanto tempo essa série de embrulhos, bilhetes, fios, dobraduras levaram para serem produzidos.

Muitos e delicados gestos na produção de um envoltório. Um envoltório amoroso para proteger a pequena figura.

Esse tempo produz amor.

Esse amor produz tempo.

Tempo intensivo do coração.

Kairós.

Tempo reconciliável, tempo da arte, das percepções sutis.

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Passei o dia refletindo um presente delicado que ganhei e que me fez pensar na potência do pequeno.

Encerro essa foto-novela, passando a palavra para a artista:

"Mãos que fazem

Através do construir amoroso, é possível externar intuitivamente os nossos sentimentos.

Quando nos propomos a fazer algo com nossas próprias mãos, possibilitamos que aquilo apresado pela matéria se revele pelo sentido do tato.

Papel e linha pedem para serem tocados e, quando acarinhados pelas mãos, podem dar vida a um outro universo.

Nesse entrelaçamento, torna-se possível o nascimento da representação, a comunhão entre o que está guardado em nós e o que é ofertado pela matéria.

Érica Campos**".

Eis o que pode uma delicadeza.

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é artemanualista, ativista delicada, doutora em educação, escritora e conferencista. Sua pesquisa habita o território da casa, suas artes e terapêuticas, na perspectiva da antroposofia da imanência, junto ao cuidado de si e do outro.

é artista atua na confecção de esculturas feitas com papel e linha que cabem na palma da mão.

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