Texto de Luciana Aguilar*
Um xale ali parado, como se nada fizesse, meio pendurado, meio encostado, como se estivesse esquecido. Estava propositalmente ali colocado para que eu soubesse sua história. Sua história parecia simples, uma criação de alguém que estava num curso e o fez. Simples assim.
Não. Não é simples não.
A criadora, Suzana, em seu processo de reconstrução, tinha mãos, mãos que ansiavam por mais, muito mais além do que as simples teclas do computador que digitava, mãos que sentiam falta, falta de criar, falta de concluir.
Então não é uma história sobre xale. É uma história sobre as mãos que fizeram o xale. Mãos que sentem falta de agulha.
No processo que as mãos se encontravam naquele momento, tudo ficava pelo meio, incompletas. Aquele xale não. Ele era diferente. Ele foi um processo que trouxe às mãos outro fazer. Um aprender de tear, tramar com as mãos, com concentração para não se perder no fio e nos devaneios, ou cabe melhor dizer que eram pensamentos?
Não se perder nos pensamentos dos processos.
O xale era enrolado, como se guardasse algo para o final, uma surpresa. As mãos o enrolavam vez ou outra.
A surpresa veio realmente ao final do curso.
Na verdade, aquela peça, não era um xale, esse foi o nome que eu dei a ele, poderia se chamar toalha ou colcha se eu quisesse, ele era um tecido não nomeado até aquele momento, na verdade era processo acabado, processo de vida que acontece.
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Escute o texto na voz da autora
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*Luciana Aguilar é especialista em Artes-Manuais para Educação e gestora acadêmica. Artemanualista. Docente da pós-graduação Artes-Manuais para Terapias. Pedagoga, atua como professora particular e orientação de trabalhos escolares e de textos acadêmicos. Mãe, estudante do curso de Letras. Escritora. Escreve sobre temas do cotidiano, as coisas ditas pequenas da casa, os fazeres manuais com fios, maternidade e mulheres. Pesquisadora da leitura e dos processos de escrita.
Conheça mais: https://www.instagram.com/luciana_aguilar86/